ERCÍLIO OU HERCÍLIO
PINHEIRO(Francisco Ercílio Pinheiro de Oliveira) – Luiz Gomes-RN, 18-11-1918 –
Tabuleiro do Norte – CE, 09-04-1958, morreu com apenas 40 anos incompletos, mas
deixou um respeitável nome na história da cantoria nordestina. Boa voz, dom de
repentista, estudioso, carismático, impressionou fortemente a quantos o ouviram
e com ele cantaram. Dizem que o velho Pinto do Monteiro foi ao Ceará somente
para cantar com ele, e, não o encontrando por lá, disse:
“Eu subi ao Ceará,
que chamam terra da luz,
mas não cantar com Hercílio
é cravar-me numa cruz,
é como subir ao céu
e não falar com Jesus!”
Conta-se que, na cantoria em que os
dois geniais repentistas realmente se encontraram, Hercílio brindou o mestre
Pinto com esta magistral sextilha:
“Canta, Severino Pinto,
massa dos quatro elementos,
catadupa do improviso,
montanha de pensamentos,
grandeza de céus e mares,
força da rosa-dos-ventos!”
(Informante:
Raimundo Lourival de Lima(Lourinho), funcionário do Banco do Nordeste, Currais
Novos – RN, gerente, em 1985). O poeta José de Sousa tem uma versão desse repente
de Hercílio que apresenta diferenças em alguns versos, mas não demonstrou a
devida segurança para contestar a informação de Raimundo Lourival. Esse tipo de
dúvida para trabalho de improviso que não foi gravado ou anotado no momento de
sua criação é muito comum, e o pesquisador muitas vezes não tem como
solucionar, optando por apresentar a forma mais aceitável, para não deixar de
registrar um repente de alta expressão, como é o caso analisado.
Numa cantoria, quando o assunto girava em torno da fé em Deus, Hercílio,
reconhecendo que sem Ele nada somos, improvisou:
“Eu fui, eu sou e serei…
São três coisas de mister.
Se eu fui foi porque Deus quis,
se eu sou é porque Deus quer,
e para o tempo futuro
eu serei, se Deus quiser.”
Hercílio cantava numa casa sertaneja quando o
companheiro chamou sua atenção para uma lagartixa que caía do teto:
“Caiu um bicho nojento,
feio e sujo sem parelha!”
Hercílio resumiu com arte e graça:
“Caiu um bicho da telha,
parece uma lagartixa:
é carne que não se come,
é couro que não se espicha.
Eu peço ao dono da casa:
pegue um pau, mate essa bicha!”
Hercílio
cantava com Dimas Batista em mútuos elogios. Dimas findou assim uma sextilha:
“Não vejo quem pague os versos
do grande Hercílio Pinheiro.”
Hercílio,
inspirado e elegante, respondeu:
“Enfrentar meu companheiro,
cantando, ninguém se atreve.
No momento em que ele canta
Parece que Deus escreve
Com tinta da cor do céu,
Em papel feito de neve
Numa
cantoria em que os repentistas falavam da Escritura Sagrada, Hercílio
improvisou:
“Na Escritura Sagrada,
me lembro que Jesus disse:
“Quem tivesse pra dar, desse,
quem não tivesse, pedisse;
quem fosse triste chorasse,
quem fosse alegre sorrisse.”
Dimas
Batista, em dura peleja com Hercílio, assanhou a fera:
O que eu fizer num minuto
Você num ano não faz.
Hercílio
foi fulminante na reprimenda:
Você tem razão demais,
Porque nasceu desumano,
Mesmo este é o costume
Do povo pernambucano:
Fala a verdade um minuto
E mente o resto do ano.
Por
fim, minha homenagem ao inesquecível Hercílio Pinheiro:
-Perdemos há meio século
Nosso grande violeiro
E, por todos os recantos,
Lamenta o Nordeste inteiro
O silêncio da viola
Do grande Hercílio Pinheiro.
Seu nome virou legenda
No mundo da cantoria;
Morreu jovem, mas deixou
Um rastro de poesia
Que ilustra as mais lindas páginas
De sua biografia.
FONTE – OCEANO DE LETRAS
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